sábado, 19 de fevereiro de 2011

Anciã


Anciã.

Dê-me um dia inteiro

E eu farei dele poeira.

Porque todos os dias já me pertencem

Porque todos os anos já me devastaram.

Porque vivi tudo o que tinha que viver,

Agora vivo para recordar.


Nos os olhos do estranho que

Fita-me no espelho

Há uma nuvem pesada

Carregada de dor

Escondendo o céu azul

E no infinito desse azul...

Não há nada.


Porque já pisei tanto nesta Terra

Que as cordilheiras estão amassadas.


Porque sou uma alma gritante

Presa num corpo mudo

Continuo sendo nada

Mesmo tendo visto tudo.


Continuo erguendo a espada

Pois não fui apunhalada o suficiente

Pois já me perdi em tantos devaneios

Que não sou nem sã nem demente.


Porque já possuí tantos rótulos

Porque já morri tantas vezes

Porque já fui tão dedicada

Que perdi meus interesses.


Porque o tempo arrastou-me

E não sei aonde cheguei.

Porque já fui tão fiel que,

Não lembro em que acreditei.


E tanta fé depositei

Nos caminhos que pretendi trilhar


Volta e meia chove

E a nuvem no olhar do estranho

Dissipa-se e some.

Mas não há azul.


Já desci tantos degraus

Quantos valem a pena escalar


Porque o azul que há nos teus

Não há nos meus

Pois não sou nem céu nem mar.

Sou velha!

Sou secular.

Sou apodrecida de tanto esperar.



feito em: 14/02/2011

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