quarta-feira, 28 de março de 2012

Borba (vento) Gato


Talvez eu não tenha talento

Talvez seja culpa do vento

Que me traz essa sensação de bem-estar

Mas estar bem, seria estar contigo

Longe do perigo

Bem perto do verdadeiro amar

Sinta o vento!

Sinta o vento!

Ele voa como o tempo

Tempo que nos separa

Cada vez mais

Sinta o vento e lembre-se de mim

Ouça o que o vento tem a dizer

Pois através dele mandei

Um recado para você.

Lembra-se dos amores fáceis?

E das juras perdidas?

Fomos boas amigas

Seremos eternamente irmãs

Às vezes confusas e perdidas

O vento nos mostra uma saída

O vento nos serve de divã

Foi em dias como estes

Que o sol brilha sem queimar

Que ousamos atravessar

As barreiras de nós mesmas

Quando passo pela Borba Gato

Sinto sua presença

No formato consistente da ausência

Como posso explicar?

O vento sopra em seu rosto

Espalha seus cachos ao léu

O vento é nosso confidente fiel

Quando o vento lhe soprar

Feche os olhos e escutará

A mensagem que te mando

Feito um poema santo

Que sempre lhe guardará

domingo, 11 de dezembro de 2011

O silêncio do vinho







Antes de começar, gostaria de dedicar esse texto a um garoto irritante, impertinente e inesquecível.
Imecerecedor do meu tempo e o grande percursor das minhas poesias.
Das minhas rimas mais primitivas aos meus versos mais elaborados.
É a ele que devo agradacer.
Infelizmente.



O silêncio do vinho.


É aquela velha história...
Repete-se, mas não se modifica. Está intacta no gerúndio.
Ainda crescem hibiscos na árvore que nos acolheu e absorveu os últimos raios-de-sol daquele dia incompleto e contínuo.

Eu vejo sentado. Eu vejo você levantar. Eu vejo você ir embora, mas antes...

Seu silêncio me ensina muito mais do que todas as palavras que você tinha a dizer.
"Vocês tem uma estranheza em comum"
Foi o que me disseram. Que eu em toda minha esquisitice solitária, combinava com sua esquisitice mais bizarra.

Não nascemos para isso.

Quantos não foram os mundos que conhecemos? Quantos não foram os segredos que continuamos guardando?

Aquela que existiu e te amou, acorda com uma leve lembrança, você será sempre sexy calado.

Foi isso que nos manteve juntos: 
o silêncio. 
Sem nenhuma palavra, você me revelou tudo, e nós continuamos separados. 
Entretanto você mantém seu charme calado.

Não importa quantas vezes eu repita as palavras daquele dia, a imagem que guardo de você está imersa no silêncio. Mantém o o mistério que investiguei e não resolvi.

As duas manchas de vinho tinto que formavam seus olhos, fitavam-me.E é desse modo que serás eterno.

Duas folhas secas de outono fitavam duas manchas de vinho tinto. Numa troca de olhar que penetrava as mentes, e os estranhos se reconheciam.

Um lenço, um caderno e um sombra tem muito a dizer sobre nós. Porém o melhor de você só se revela no silêncio. Lembro-me do que disse calado. Lembro-me do seu 'até mais' que foi um adeus. Eu vejo você ir embora, mas antes...

Lembro-me da pulsação, dos sorrisos e comprimentos. Lembro-me dos livros e dos lamentos, mas nada fará me esquecer o silêncio.

Entre meus lábios não ouso repetir as palavras que lhe entreguei. Entre meus lábios guardo apenas o gosto amargo do vinho que não provei.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Diário da Tarsilla dia: 17/07/2009



Você acorda, respira fundo e não sente sua existência
Você olha para os pôsteres da sua parede, e sabe que eles são um pedacinho do que quer que seja você.
Há livros na sua estante, nenhum conta sua hitória.
Você olha para o céu, que jamais é o mesmo e, quer fazer parte dele.
Você se veste de preto e branco, mas ainda faz parte das cores e formas do mundo.
E você está girando devagarinho com a Terra, mas parada diante da sua dor. E, encarando-a de frente, percebe o quanto ela é pequena se comparada a ti.
As nuvens não param e você quer ir junto com elas.
O dia está tão lindo e só você guarda essa imagem.
Mas vale estar nua de preconceito, do que não conseguir crescer por conta da armadura.
É cansativo tentar descobrir quem se é.
Pior ainda é não saber o que está faltando.
Com a determinação das borbotelas, as flores aparecem para colorir o mundo. Quando as borboletas morrem, as flores murcham e, o mundo continua a girar.
Uma abelha sozinha até que faz mel, mas só alimenta a si, e não faz diferença nenhuma.
O sol mancha sua pele.
As tatuagens cobrem as manhcas.
A vida se constrói com cada recomeço.
E se nada é para sempre.
Então nem sempre haverá um fim.

domingo, 13 de novembro de 2011

Não confunda!


Não Confunda!!

Não confunda:

Planejar com viver no amanhã

Porque ‘plano’ é uma ideia

E nenhuma ideia é sólida

Não confunda:

Solidez com certeza

O que é firme pode ser quebrado

E certeza que é certeza sabe voar

Transmutar e permanecer

Não confunda:

Analisar o passado com reviver dores

O passado te criou

Mas o que você é, e o que você pode ser

Encontra-se no ‘aqui’

Não confunda:

Ser sincero com ser cruel

Lembre-se: Toda verdade é mutável

Por isso deixe a verdade dura

Para amanhã quando estiver suavizada

Não confnda:

Ser flexível com ser influenciável

Mas também não pense

Que está sendo manipulado o tempo todo

E...

Jamais assuma o controle

De uma situação emocional

Que não envolve só você

Não confunda:

Ser coerente com ser insensível

Não se esqueça que há diferentes níveis

De sentir e de fazer

Não confunda:

Tentar entender com tentar dominar

O que não é você que sente

Nunca haverá com explicar

Por isso mesmo que o outro tente

Você não entenderá racionalmente

Faça um esforço e tente sentir

Nunca acredite que sabe amar

Se suas relacionadas ao amor

São baseadas em razões, moral, e princípios

Coisas que são inexistentes ao amor

Lembre-se:

O amor está acima do bem e do mal

Este é o amor em sua essência

Puramente incondicional

Não confunda:

Ser simpático com ser falso

Ser sincero com ser grosso

Assim como o amor sabe ser brutal

O ódio sabe ser delicado

Não se solidifique com dores

E com os sofrimentos que aparecem

Repito:

O que é sólido pode ser quebrado

O efêmero nunca é atingido

E o macio sempre aplaca o impacto

Não confunda:

Erro com derrota

E muito menos

Não errar com ser inteligente

Não confunda:

Dinheiro com conforto

Dinheiro com segurança

Dinheiro com felicidade

Pois assim você estará confundindo

Dinheiro com paz interior

Paz interior não precisa de ouro

Pois é tesouro cheio por ser vazio

Não confunda:

A crise de uma etapa

Com o fim de todas as etapas

E se um dia você se confundir

Acalme-se

Pois o mundo é todo confuso

;)


domingo, 6 de novembro de 2011

Ilusões


Todos os bons sonhos estão perdidos

Embrulhados num pedaço de papel

Jogados numa lata de lixo

Pois nenhum sonho me levará ao céu

Não existe paraíso

O que torna o sonho

O pensamento mais cruel

O desejo mais insensato

Sonhar é tão barato

Mas não compensa o estrago

Do seu não acontecer

Quando um sonho lhe é roubado

Sinta-se premiado

Pois é mais fácil enlouquecer

Quem não quer morrer

Após um sonho despedaçado?

Há traços, miudezas

Vestígios da tristeza

Que um sonho pode trazer

Seria culpa da natureza?

Seria por falta de destreza?

Que nossos sonhos tendem a morrer?

É falta de atitude?

Coragem ou esperteza?

Seria o sonho uma doença?

Uma chance que se apaga ao entardecer

Não há mais em mim

Do que um dia seria apenas você

Não é tão ruim assim

Deixar um sonho apodrecer

Eu só queria te dizer

Eu só queria te dizer...



PS: A imagem foi demoradamente escolhida. Dá pra ver duas coisas nelas. O que vc vê?

Uma jovem de costas (foi o que eu vi primeiro) ou uma velha de perfil?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

HIMMEL


Eu vi defuntos

Vestindo máscaras

Preparavam-se pro carnaval

Vi mortos aguardando

O fim do expediente

Para encerrar de vez

Seu dia teatral


Eles se moviam

E cochichavam

Mas não estavam lá de fato


Estavam mortos

Sem velório

E os vermes corroendo...

Corroendo...


Uns falavam ao telefone

Outros corriam e se esbarravam

Esbravejavam


Uns pediam esmolas

Para as máscaras de ar sério


O mundo na verdade

É um grande cemitério


Somos as flores murchando

Nas lápides onde também

Murcharam nossos ancestrais


Somos um barril acumulado

De horas trabalhadas

E realizações banais


Eu vi mortos vivendo!

Inteiros?!

Só em termos carnais


Com os corações sepultados

Com os sonhos esquecidos


Vi rostos pintados

E descoloridos

Mas nenhum com cor natural.


Só vi falta de vida

Na vida cotidiana

Vi morte nos sorrisos

E procurei a morte de verdade


E adivinhe!

A morte não estava tão morta

Quanto a vida nesta cidade


Esbarrei em sonhos perdidos

Daqueles que foram descartados

E se podaram para serem aceitos

E agora morrem de dias perfeitos

Morrem por estarem adaptados


Desculpe-me se ofendo

Mas nessa vida tão estúpida

Quanto mais observo a sociedade

Mas admiro as prostitutas


Cansei de uma vida trincada

E tentei viver de novo

Mas acho que nesse governo

A vida não trabalha

De carteira assinada


~ Fim ~


Obs: O nome do poema é HIMMEL, porque quando eu estava indo ao cemitério (onde eu escrevi o poema), eu coloquei a mão no bolso e a primeira coisa que tirei de lá foi meu rímel, e lembrei que "Himmel" em alemão quer dizer 'céu'.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Inquietude


Inquietude

Curiosamente quando se está inquieto é justo quando mais nos calamos. É quando as pessoas nos perguntam o que há de errado e não temos a resposta.

Inquietude é aquele estado em que tudo dentro de você está aparentemente calmo, quando todas as suas vozes interiores estão caladas, mas algo entre as brumas de seu pensamento ainda se agita. Estremece-te por dentro, como se uma verdade muito viva estivesse se debatendo trancada num baú.

É isso que nos deixa inquietos. Uma verdade que você não quer ver, mas que ameaça lhe encarar. Venha ela em forma de lembrança, temor, arrependimento, saudade. É algo que você gostaria de poder destruir simplesmente deixando-a de lado.

Quando minha madrinha morreu minha avó passava os dias inquieta. Ela ouviu todas aquelas palavras clichês que não são de fato ruins, apenas as únicas que conseguimos lembrar-se de dizer. Agradeceu enternecida, mas não falou uma palavra sequer de como se sentia ao perder sua filha mais velha. Trancou-se em suas próprias palavras.

Ela emudeceu completamente sobre o que lhe afligia. Passava as tardes andando de um lado pra o outro na calçada da casa, coçava a cabeça, olhava para o nada.

Muitos pesaram que ela enlouqueceria, outros achavam que isso já tinha acontecido.

Aos poucos, em seu próprio ritmo foi voltando ao normal. Hoje quando me lembro daquelas cenas que tanto vi e não dei importância (estava ocupada com a minha interpretação da dor), tento imaginar o que ela pensava. Quantos filmes não devem ter passado pela cabeça dela? E quantas vezes ela assistiu cada um?

Não teria como eu ajudá-la, eu estava lidando com minha dor, e deixei ela fazer o mesmo. A mesma pessoa foi separada de nós, mas não tivemos a mesma perda. Para resumir, eu perdi um anjo, ela perdeu uma benção, eu perdi uma madrinha, ela perdeu uma filha.

Mas ela acabou se curando usando a inquietude como terapia. Abriu pouco a pouco os baús das lembranças, das saudades, das magoas que recebeu e que ofertou a minha madrinha.

Nunca subestime o que a dor pode causar numa pessoa, e NUNCA superestime o que a dor pode causar numa pessoa.

A dor ataca a todos. Uns escolhem fazer da dor um sofrimento eterno, minha avó escolheu se curar. Deixou sua filha continuar a ser sua filha, e deixar sua dor silenciada numa inquietude finita.

Uns transformam a dor numa desculpa para desistir, outros a transformam num tesouro, outros sentem carinho pela dor, porque sabem que foi ela que os transformou, mas a abandonam. Poucos são como minha avó que apenas a deixa passar.

As dores são como os ratos, não se pode dar ouro a eles, nem esperar que eles lhe tragam diamantes.